terça-feira, agosto 17, 2010

Petróleo africano

"O roubo de petróleo está nos matando", queixou-se o porta-voz da empresa Royal Dutch Shell, que extrai cerca de um milhão de barris de petróleo por dia na Nigéria.Para a empresa de segurança WAC Global Services, as condições no Delta do Níger podem até lembrar a Tchetchênia.Há vários meses, as autoridades nigerianas decidiram que era hora de um basta. Dokubo-Asari , 41 anos, lider de uma guerrilha estimada em 2 mil homens sob seu controle foi preso sob a acusação de planear um golpe de estado. De lá para cá, o conflito tem ameaçado sair de controle. Uma centena de simpatizantes altamente armados de Dokubo tomaram uma plataforma de petróleo operada pela Chevron. Como precaução, a companhia de petróleo americana fechou uma segunda plataforma. Apenas nas últimas três décadas, o combustível fóssil já trouxe mais de US$ 280 bilhões para a Nigéria. Grande parte disto desapareceu nos bolsos de políticos corruptos(The Economist). Os predadores da indústria do petróleo têm circulado nos países caóticos localizados no Golfo da Guiné em números cada vez maiores ,não apenas em consequência do aumento estratosférico dos preços do petróleo e das reservas cada vez menores no outro Golfo.Os Estados Unidos têm um interesse particular nestas reservas: a Nigéria é seu quinto maior fornecedor de petróleo, com a África Central e Ocidental correspondendo a até 15% das suas importações de petróleo. Taxas de crescimento atordoantes são projetadas para países como Nigéria e Angola, onde a corrupção é endêmica. O afluxo de dinheiro deverá atingir proporções gigantescas por todo o Golfo da Guiné: no Gabão, Congo (Brazzaville), Guiné Equatorial, São Tomé e Príncipe. Os campos de petróleo estendem-se por centenas de quilômetros continente adentro. O próximo país na agenda de exploração é Camarões.Exxon Mobil, Woodside Petroleum e Tullow Oil já estão a trabalhar no leste do continente. Na Somália, a caça foi suspensa em 1991 pela guerra civil devastadora no país. Mas com um novo governo eleito em 2004, os representantes das companhias de petróleo têm voado em peso para a capital provisória, em Jowhar.A China também descobriu o potencial da África como fornecedora. A superpotência econômica emergente necessita desesperadamente de recursos naturais para manter sua taxa de crescimento anual de 9%. Depois que os Estados Unidos declararam o Sudão, de governo islâmico, como um Estado inamistoso por dar santuário a Osama Bin Laden, forçando as empresas americanas a abandonarem o seu lucrativo comércio do petróleo do país, a China ficou contente em preencher o vácuo.Em troca, o Sudão envia 60% de seu petróleo para a potência asiática --não exactamente pouca coisa, dada a sua produção diária de 340 mil barris. Recentemente, um exército de trabalhadores chineses iniciou a construção de um segundo oleoduto, de 1.500 quilômetros, dos campos de petróleo no sul até Porto Sudão, no Mar Vermelho. No acordo, o governo de Umar Al Bashir --que investe quase dois terços da sua receita de petróleo nas suas forças armadas-- receberá armas da República Popular da China de que necessita desesperadamente para travar a guerra contra os rebeldes em Darfur.A China já obtém 6% do seu petróleo do Sudão, o equivalente as suas importações da Rússia. Em vez de estimular os africanos a adoptar a democracia e a transparência, a veemente "defesa do princípio da soberania" por parte de Pequim tem beneficiado os líderes autoritários africanos que foram rejeitados pelo Ocidente, diz cientista político alemão Denis Tull.

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