terça-feira, agosto 17, 2010

Elites africanas preservam processos coloniais

Júlio Mendes é professor de História no Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda (ISCED), uma unidade orgânica da Universidade Agostinho Neto, essencialmente virada para à formação de professores providos de uma formação científica, cultural e técnica de nível superior. Concedeu um entrevista muito actual e que ajuda a perceber o continente africano e os seus povos.

Sente-se mal ao recomendar aos seus alunos bibliografia sobre a história de África produzida por não africanos?

A minha grande dificuldade com os estudantes é que existe muito material sobre história de África, produzido tanto por africanos como por europeus que, pura e simplesmente, não existe no mercado nacional. Temos de recorrer a fontes de fora. As bibliotecas das universidades também têm essa lacuna, em termos de material sobre a história de África. Outra grande dificuldade dos estudantes da universidade é o domínio de línguas estrangeiras. Há muita literatura sobre a história de África que está publicada em francês e em inglês . A África francófona e a anglófona produziram muita coisa, como a Escola Histórica de Dakar, a Escola Histórica de Brazzaville, a de Dar-es-Salam. Produziram muita coisa, mas os nossos estudantes não dominam essas línguas. O que existe em português é escasso. Os próprios docentes de história de África, para terem algum material, têm de fazer um esforço de encomendar em Paris, Dakar, a universidades norteamericanas, por exemplo, para poderem ministrar o conteúdo da história de África, desde a pré-história até aos nossos dias.

O que leva as elites africanas a não massificar a formação, é só a manutenção do poder ou haverá aí resquícios de uma cultura colonial assimilada?

Também tem muito a ver com a própria colonização, porque a maior parte das elites colonizadas não conseguiram fazer uma ruptura com o passado colonial. Apesar de terem combatido a colonização, não fizeram essa ruptura tão importante para virar a marcha do desenvolvimento dos seus próprios países. Verificamos, então, uma série de chagas, de problemas.

Acharam-se herdeiros dos processos da administração colonial?

É isso mesmo. Não fizeram a necessária ruptura com os processos da administração colonial.

Há, portanto, ainda, uma necessidade de regresso à africanização ?

Exactamente. É preciso regressar à história, é preciso divulgar ainda mais a própria história de África, a história dos países, em particular, para que as elites que se vão sucedendo nas diferentes instituições possam utilizar a história como fonte de inspiração para o novo desenvolvimento africano.

Esta entrevista com o professor de História do ISCED, Dr. Júlio Mendes Lopes que pode ler na íntegra aqui.

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