quarta-feira, outubro 21, 2009

Hipotético

Costumeiro manipular o público em período de campanha eleitoral. Pouco usual mas sempre se vai fazendo com muita criatividade um jornalismo de hipotises. Entre uma e a outra situação também é possivel conceber uma hipotética entrevista . O que vai ler é apenas um cenário construido na base de elementos percebíveis no decorrer da presente luta pelo voto e que traz um concorrente que procura passar alguma credebilidade. A “entrevista” ao senhor Daviz Simango (DS).

P- O vosso manifesto traz algumas novidades mas no seu todo não especifica como vai o seu partido resolver questões que enfermam o cidadão?
DS- Sabe, as dificuldades que o moçambicano enfrenta já todos sabemos, nada é novo. Felizmente todos conhecemos, temos sensibilidade porque vivemos na carne. A diferença que trazemos é na maneira como fazer as coisas. Por exemplo o investimento nas zonas rurais é uma decisão que vale politicamente mas não economicamente. Explico-me. Se daquí a dois anos o Presidente Guebuza voltar a palmilhar os distritos tenho quase a certeza que poucos serão os projectos de pé.
P- Derrotismo, não acredita nas capacidades dos camponeses?
DS- Disse e muito bem: capacidadades. Este dinheiro teria que ser gerido tecnicamente e financeiramente por um orgão dotado destas permissas de modo a educar, ensinar e monitorar as propostas dos conselhos consultivos. De nada valerá abrir uma moagem em determinada localidade quando há imensas dificuldades depois para escoar o produto final, seja por más vias de acesso ou então descapitalização do comercaiente mais próximo. Façamos isto mas sem pressa e com os pés no chão, até porque estes projectos têm de devolver o dinheiro investido para rederecionar para outros projectos no distrito.
P- Muito tem falado nos seus discursos da dispartidarização do Estado. É sabido que os cargos de chefia são de confiança politica, mesmo em outras partes do mundo.
DS- Quando o professor deixa de receber os seus salários a tempo e horas e sito passa a ser rotina, uma forma de viver, uma postura assumida por uma Direcção Provincial é porque qualquer coisa não vai bem. Os responsáveis pela demora jamais podem ser de confiança politica, porque estão a comprometer a imagem do Governo do dia ao prestar mau serviço ao público.
P- Uma coisa é pensar assim e outra é a pratica?
DS- Mesmo que conseguissemos no Parlamento assentos suficientes que permitissem alterar as leis, a que regulamenta o funcionalismo público não tem muito para mudar. O problema é que as leis são aplicadas circunstancialmente criando no grupo de trabalho instabilidade. Por lei nenhum funcionário do Estado está obrigado a cometer um acto ilegal venha de quem vier. Quem arrisca? Em suma: o funcionario do Estado não tem certezas.
P- O seu Partido remeteu a Procuradoria Geral da República uma queixa crime contra a CNE. O que é pode mudar sabendo-se que uma decisão final leva sempre algum tempo.
DS- Temos todo consciência de que a PGR vai emitir a sua decisão para lá do período eleitoral o que é compreensível, tal como qualquer processo que exige a necessária investigação. Vou ser sincero: pressionamos com razão a CNE e ela mostrou as suas fraquezas. Fizemo-lo junto do Conselho Constitucional e o resultado não foi diferente. Agora queremos testar se de facto a lei está acima dos interesses do homem. Cabe a estes pilares da nossa justiça lavarem a imagem cinzenta que estão a deixar. O problema já não é nosso. Este um combate politico, o único que se deve fazer.
P- Alguns membros que aderiram ao seu movimento têm vindo a abandona-lo em plena campanha, isto não o aflige depois de tanto se falar que todos estavam consigo?
DS- Todos? Não. Se assim fosse ninguém envergava as cores de outras formações partidarias vistas nesta campanha. A desistência de alguns membros pode dever-se a várias motivações sendo a principal a falta de convicção. Quem tem convicções mesmo sem material de campanha e outros apoios logísticos trabalha, trabalha até ao esgotamento.
P- Vemos multidões nos comícios dos outros candidatos, mas nos seus muita pouca gente presente.
DS- As imagens que chegam pela televisão nem sempre expressam a realidade. Seja como for é verdade que em termos de ajuntamento saio a perder. O que me diz para continuar é a certeza que há muita matéria prima para alimentar esta fábrica da esperança. O segredo é passar a mensagem e bem a cada a povoação que vamos palmilhando via terrestre.
P- Revela-se a prior um candidato tercializado?
DS- No boletim de voto não (risos)..... mas sabe meu amigo, das pessoas que se aglomeram nos grandes comícios , uns são menores, uns não tem cartão de eleitor, os que têm nem todos vão votar naquele orador. Vamos aguardar.
P- Aguardar parece não fazer parte do seu vocabulário. Não acha que se precipitou ao candidatar-se a Presidencia?
DS- Parti para este desafio ciente que estaria em desvantagem porque as pessoas não me conhecem o suficiente para confiar o seu valioso voto. Mas na politica há que aproveitar o sentido de oportunidade. O terreno é favorável á mudança que pode começar como se desejaria ao nível da Assembleia da República....ficamos amputados em alguns círculos importantes.
P- Mas a CNE diz que alguma documentação foi esquecida por colaboradores seus na bagageira de uma viatura?
DS- É verdade mas isso não retira as dúvidas em volta das decisões da CNE, particularmente a dualidade de critérios. Nós esquecemos e apresentamos mais tarde, outros não se esqueceram e foram feitos arranjos temporais para legalizarem os seus processos.
P-Está a falar do PLD?
DS- É uma questão de carácter e isso varia de pessoa para pessoa.
P- Quem está financeiramente por detraz do seu Movimento?
DS- Essa pergunta sabia que iria fazer. Dizer que vivemos das quotas dos membros era brincar com a inteligência das pessoas ....estariamos a ser mentirosos. Internamente temos apoio humano e também financeiramente. Humano, são aqueles que deram a cara sem receios e financeiro são os mais reservados. Estes deram contribuições na condição de ser em dinheiro vivo embora desejassemos que o fizessem para a conta do Movimento quer por cheque ou transferência bancaria.
P- Neste secrectismo há sempre alguém aproveitar-se?
DS- O Departamento Financeiro recebe e o apoiante informa de imediato aos membros da Comissão Politica. É uma gestão estranha, não dá muita transparência por mais que se esforce nesse sentido, mas há que proteger as pessoas.
P- Disse apoio interno o que pressupõe externo, como a ala saudosista colonial em Portugal com quem se encontrou logo a formação do seu partido?
DS- Tinhamos a consciência que só com apoios internos não nos aguentariamos e os factos provam isso. Fui muito criticado pelo Partido Frelimo mas julgo que será dificel comprender por razões óbvias. Nos países visitados reunimos com os moçambicanos que se mostraram disponíveis e interessados em ouvir os propositos do nosso manifesto politico. Não é correcto dizer que foi com toda a diáspora. Também falamos com portugueses que nasceram, cresceram, estudaram e constituiram família em territorio moçambicano.
P- O caso das filhas de Jorge jardim?
DS- Também e que se mostratram curiosas em conhecer a nossa visão para Moçambique. Sabemos que isto caiu muito mal nos círculos do poder. O facto é que a história não se pode apagar e nem por isso que o Governo deixou de fazer o negócio com a Mota Engil a responsável pela construção da ponte sobre o rio zambeze. Uma empresa cujos alguns quadros seniores são membros de partidos que apoiaram a guerrilha contra os governos de Angola e Moçambique e fazem parte da direita no parlamento europeu. Convenhamos: hoje esta nova geração de eleitores nem sabe, infelizmente, quem foi o fundador da nação moçambicana. Estão mais preocupados com o presente e o futuro.
P- As viaturas para cada sede provincial veio desse apoio?
DS- Uma parte sim e outra foi local.
P- A filha mais nova do Dr. Mondlane declarou num comício na Zambézia que quem matou o pai, foi Urias Simango, seu pai?
DS- Também ouvi dizer. Sabe entre eu e a Nhelety há algo em comum. Não sabemos em que circunstancias e as motivações que levaram à morte dos nossos pais. Há por aí tantas versões inclusive a viúva do Presidente Mondlane declarou muito recentemente que está a espera do relatório conclusivo da policia da Tanzânia. Também ela desconhece.
P- Os candidatos têm falado muito de Deus, orado com religiosos, participam em cerimónias tradicionais. Oportunismo?
DS- Na politica não há solidariedade. Tudo vale. Agora há que , respeitar quem nos dá parte do seu tempo para nos ouvir.
P- Voltando ao seu manifesto. Dá entender que não há muito espaço para o funcionário do estado melhorar a sua renda ?
DS- Eu presenciei um Director Provincial dos Transportes a orientar um encontro com proprietários de transportes semi-colectivos para discutir rotas e tarifas. Esse mesmo director era dono de uma frota de transportes. Em que ficamos? O Estado não enriquece e portanto todos que assumem cargos de chefia e desejem melhorar e, justamente a sua receita e, têm potencial, vocação para negócios terão que declinar uma das coisas. Vão dar mais emprego e criar mais riqueza. Deixem os que querem fazer carreira de funcionário público o seu maior investimento e a sua maior riqueza. Acredite que farão bons negócios para o Estado que é prestar um bom serviço ao público.
P- Tem prometido 1% do PIB para construir casas para os jovens. Não é demagogia num país pobre?
DS- O facto do actual governo dizer que é impossível não significa que não há moçambicanos com ideias diferentes e saídas inteligentes para provar o contrário. É por isso que temos de agregar todos os cerebros, porque para cada caso há sempre uma solução. O que está garantido é que Moçambique é rico depende agora como tirar proveito o que Deus nos deu.
P- Antes da campanha esteve em Harare onde conferenciou com lider do MDC, agora primeiro ministro do Zimbabwe, inclusive tem nesta campanha um membro daquele partido.
DS- Tinhamos de recolher o maior número de informações para sabermos como lidar com uma situação como esta, nova para todos.
P- Como as tacticas de vitimização?
DS- Todos os partidos nesta campanha se queixam de ataques fisicos e verbais o que é de tudo condenável. Pessoalmente fui alvo mesmo antes de um atentado em Nacala cujo desfecho policial até hoje não se sabe.
P- Não foi bem vindo em Gaza.
DS- Pessoas envergando as cores de um dos dos partidos concorrentes fizeram questão de afrouxar o nosso ímpeto e em alguns casos obrigaram-nos a acelerar o passo no contacto porta a porta. É uma estratégia errada agredir membros de outros partidos, porque isso só os torna de facto vítimas. Criou-se um mito em volta de Gaza por culpa própria de todos que andam na política. Alí nasceu o Dr. Eduardo Mondlane que liderou a luta dos moçambicanos contra o fascismo e colonialismo português . É património de todos os moçambicanos.
P- Vai superar o candidato de um partido com quase meio século de experiência?
DS- Olhe, se o Presidente Chissano tivesse conseguido colocar o Dr. Hélder Muteia a anos traz como Presidente da FRELIMO, se calhar hoje teria que pensar várias vezes se seria oportuno candidatar-me. Fazemos parte de uma outra geração talhada para outras ambições próprias do século vinte e um. Temos alguma coisa em comum quando falamos de Moçambique.
P- Em caso de vencer vai ter que formar um Governo, onde vai buscar quadros ?

DS- (sorriso largo) Eu sou produto da independência de Moçambique. São aos milhares na mesma condição, com experiência profissional, competencia comprovada e só estão a espera de uma oportunidade. Quanto a isso podemos estar a vontade e render uma homenagem aos que lutaram pela libertação do país e aos combatentes pela democracia.

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