sexta-feira, julho 24, 2009

Morreu a velha raposa

Rui Cartaxana, jornalista moçambicano, 79 anos , fundador da Tempográfica, também defensor de causas sociais como no bairro da Munhava, na cidade da Beira, morreu esta sexta-feira em Portugal.Em 2006 esteve em Maputo para rever familiares, amigos e a terra que o viu nascer. Antes do regresso , falou para o SAVANA desfiando a memória sobre a sua vida, a sua carreira profissional, o jornalismo moçambicano, o papel da Imprensa independente no desenvolvimento do país.Numa entrevista conduzida por Robben Jossai, começou pela parte que mais me marcou nas suas reportagens, sobre a usurpação de terra da população vulnerável por latifundiários na Munhava.Rui Cartaxana: Nessa altura não era fácil aquele tipo de reportagens…O que estava a passar é que na zona que liga a cidade da Beira, numa extensão de oito, nove quilómetros, a terra ali é boa e começou a ser ocupada por populações rurais daquela zona. Só que o proprietário registado daqueles terrenos (embora julgo não ser em título definitivo) eram o Dr. Joaquim Palhinha e um outro senhor chamado Dias da Cunha, que eram homens ricos da cidade da Beira. Eles tinham lá dois ou três cobradores brancos, europeus, que regularmente percorriam aqueles quilómetros cobrando dois tipos de receitas: uma era pela implantação de uma palhota e a outra era pela machamba. Só a palhota custava “x”, a palhota com a machamba custava mais. Não sei muito bem se foi o contínuo da redacção ou o (Ricardo) Rangel que me disse: isto é uma vergonha. Estes desgraçados, que eram milhares de pessoas, que estão para fazer a sua machamba ou palhota pagam uma renda mensal que era cobrada por esses empregados dos latifundiários. Um dia falei com Soares Martins sobre esse trabalho e disse-me que avançasse…
Rui Cartaxana esteve durante largos anos à frente do jornal desportivo Record, do qual foi director no período entre 1986 e 1998. Ao serviço do jornalismo, Rui Cartaxana mereceu algumas distinções, entre as quais o Prémio "Gazeta" Reportagem de Imprensa em 1984, ex-aequo com o jornalista Carlos Cáceres Monteiro, também já falecido. O velório de Rui Cartaxana realiza-se sábado, na Igreja dos Olivais. As cerimónias fúnebres são domingo, no cemitério dos Olivais, onde o corpo de Rui Cartaxana será cremado.

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