sexta-feira, janeiro 04, 2019

As certezas incertas do tio Sam...


Entre as estratégias com que as nações poderosas cujas políticas externas são sempre orientadas para a dominação directa ou indirecta doutros povos consistem em incutir nas mentes destes, através dos seus múltiplos meios propagandísticos e outras formas de persuasão de que dispõem, a percepção ou crença de que tudo o que eles fazem ou apregoam, é correcto, é justo e é sempre para o seu bem e prosperidade.
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De acordo com uma tese do Pai da Teoria das Relações Internacionais, Hans Morgenthau, tais países poderosos conseguem quase sempre levar outros povos a dançarem com gosto e emoção a musica que eles tocam para eles. Tais superpotências são encaradas pelas suas próprias vítimas como seus salvadores quando na verdade são muitas vezes seus assassinos que recorrem ao que Samora Machel rotulou de balas açucaradas. Morgenthau prova que a propaganda molda as mentes das pessoas e passam a pensar e agir em função do que o propagandista quer. Não é por acaso que essas super-potências investem fortemente nos Mídia como rádios, TVs e jornais tanto do seu próprio país como das nações cujos povos têm de se subverter.
É isto que faz com que mesmo que cometam crimes contra tais povos, não se apercebam logo que estão sendo induzidos em erros ou a serem empurrados para o abismo. Esta avaliação errada não é só feita por pessoas com pouca ou nenhuma formação escolástica, como também por aquelas que se julgam que são doutas ou que assim são encaradas pelo comum dos seus compatriotas.
Todo este enredo ocorreu-me em função da detenção do nosso antigo Ministro das Finanças, Manuel Chang, pelas autoridades sul-africanas, a mando dos Estados Unidos da América, segundo o que tem sido veiculado pela imprensa internacional. O que mais me impeliu a escrever este artigo, é que li antes um outro da autoria de Elisio Macamo ou que pelo menos se atribui a ele, em que disserta sobre esta detenção do Chang, em que a dado momento, afirma que quando os EUA acusam alguém, já tem tudo bem investigado e nunca falham.
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Se é mesmo artigo de Elísio Macamo, devo dizer que desta vez cometeu uma vez mais o seu pior erro de avaliação do que são os EUA. Isto porque é o país que quase sempre recorreu a factos forjados para acusar os outros países ou certas pessoas para poder os invadir ou atacar. Não é por acaso que um dos seus cidadãos que mais se opôs a essa sua tendência belicista, Martin Luther King Jr, disse e bem que os EUA é o país mais violento do mundo. Basta dizer que os EUA é o país que mais guerras já moveu depois da fundação das Nações Unidas em 1945. Desde este ano, já moveram cerca de 300 guerras (in)directas e intervenções militares contra vários países, sendo de destacar as mais recentes, nomeadamente contra o Vietname, o Iraque, o Afeganistão e a Líbia.
E em todas recorreu invariavelmente a factos forjados para fazer acusações que legitimassem os seus intentos belicistas, como o fez quando para invadir o Iraque, acusou o seu então presidente, Saddam Hussein, de ter armas de destruição massiva, embora soubesse que não as tinha. Era, obviamente, para legitimarem a invasão do seu país para que pudessem depois se apoderarem do seu petróleo como já o estão sacando a todo o vapor.
O que prova que Hans Morgenthau tem razão é que Elísio Macamo não é o único que está dançando alegremente a música que os EUA estão tocando para nós. Desde que se soube da sua detenção de Chang, tenho estado a ouvir e ler tantas opiniões como o seu julgamento à revelia, que provam que a maioria de nós moçambicanos não está ainda à altura de perceber o jogo político do mundo em que estamos. Quase todos os que ousaram expressar publicamente a sua opinião aprovam a sua detenção pela policia sul-africana, e não colocam sequer a hipótese das acusações que o fazem serem forjadas tal como forjaram os que imputaram contra Saddam Hussein.
É que mesmo que digam que é porque foi um dos contraiu as dividas ocultas, não há nada que legitime a sua detenção por um outro país, independentemente do seu poderio militar ou policial como o são os EUA. Para que os EUA tivessem legitimidade moral ou jurídica de mandar prender Chang, deviam primeiro ordenar a detenção do seu antigo presidente, George Bush que neste caso cometeu também a ilegalidade de ordenar a invasão do Iraque sem a autorização das Nações Unidas de que são membro. Ou será que o mesmo crime já não e o mesmo? E já agora, porque e que os EUA nunca ordenaram a detenção dos políticos moçambicanos que se valem da violência para se impor aos seus compatriotas? Será que matar deliberadamente civis é um crime menor que contrair dívidas sem autorização do Parlamento?
E veja que essa invasão causou a morte de dezenas de milhares de iraquianos e a destruição de muitas infra-estruturas, incluindo hospitais cuja falta agora está causando outras tantas mortes de civis iraquianos.
Se é verdade que o mandante da sua detenção são os Estados Unidos da América, então não estou de acordo, não como seu compatriota apenas, mas porque Washington não tem o direito de mandar prender cidadãos doutras nações, a não ser que os apanhe em flagrante a cometer um crime nos EUA ou noutro território sob jurisdição de Washington.
Imagem relacionadaOs EUA não podem, à luz do Direito Internacional, prender fora das suas fronteiras ou mandar a polícia dum outro estado prender cidadãos de terceiros estados que nela estejam a viver ou estejam em trânsito como é o caso de Chang, que foi detido pela polícia sul-africana num território neutro, que é o seu aeroporto Internacional de Joanesburgo. É que se assim a moda pega, haveria também muitos cidadãos norte-americanos e de outras nações a serem presos pelo mundo fora, porque há muitos que também cometeram crimes, como George Bush que invadiu o Iraque ilegalmente e mandou enforcar o seu então presidente, Saddam Hussein.
A detenção de Chang só seria legal e legítima, mesmo que seja verdade que cometeu alguns crimes de índole internacional, se tivesse sido ordenado e executado pela Polícia Internacional, mais conhecida por Interpol. Mas se é verdade que foi a mando dos EUA, é mais uma prova da arrogância deste País e cimenta a tese dos que dizem que Washington tem estado a usurpar o papel da Interpol, ao agir de facto como Policia Mundial. Isto não pode ser aplaudido nem tolerado. Reitero que ordem de detenção de Chang só pode ser legal e legítima caso tenha sido chancelada pela Interpol ou se foi a pedido do governo de Moçambique, como foi o caso da detenção de Nini na Tailândia há uns meses.
Se esta detenção de Chang tem como mandante de facto os EUA é tão ilegal quanto foi a da CEO ou PCE da Hwawei, Meng Wanzhou, no passado dia 05 deste mês no Canadá e que levou a China a retaliar detendo também três cidadãos do Canada no seu território e alguns norte-americanos. Meng acabou sendo libertada. É que não cabe a cada estado deter cidadãos doutros países fora dos seus territórios. Tal compete só e tão-somente à Interpol.
Sei que há os que dizem que os EUA ordenaram a sua detenção porque o seu próprio governo o mantém impune. Ora, mesmo assim, os EUA não podem se substituir aos governos doutros países. Se de facto eles têm provas de que Chang é criminoso, há uma série de organizações internacionais a que os EUA podem fazer a queixa para que ele seja detido por uma autoridade com legitimidade para tal, como a tal Interpol de que Moçambique é um dos 181 membros de pleno direito e dever de cumprir com as suas deliberações. Os estatutos da Interpol são claros nas competências que criaram esta organização com sede em Lyou na Franca, como se pode depreender desta asserção: "A Interpol opera basicamente em três áreas: a área de inteligência, que é a busca pelos dados em si, a coordenação das operações policiais em um ou mais países e a busca de informações para uma investigação já iniciada por outra polícia".
Como a Polícia Internacional age? 
1. Quando um criminoso escapa dum certo país, a sede da Interpol no país inclui o seu nome e as informações sobre o procurado na chamada "difusão vermelha", e passa a constar numa lista de fugitivos que circula pelos computadores dos escritórios da Interpol em todos os 181 países afiliados. 
2. Uma vez localizado pela polícia de outro país, o escritório do país que o localiza solicita a prisão preventiva. Se a solicitação for aceita, a Interpol do país de origem do fugitivo será responsável por fornecer as informações necessárias para o processo de extradição à justiça do outro país.
3. Uma vez concedida a extradição, os agentes da Interpol de Moçambique cuidam do transporte e entrega do acusado à Polícia do país que o irá julgar. Ora, Chang nunca esteve em fuga e até circulava à vontade tanto aqui em Moçambique como nos do além-fronteira.

OS EUA JÁ FIZERAM TANTAS OUTRAS ACUSACOES FORJADAS PARA JUSTIFICAREM OS SEUS INTENTOS HEGEMÓNICOS
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Para mim, esta detenção de Chang visa algo mais ruim do que propriamente o que nos é dado como justificação. A mim me lembra a invasão pelos EUA do Iraque em 2003, em que a justificaram como destinada à destruição das armas de destruição massiva que alegavam que Saddam Hussein tinha.
Mas como nós todos viemos a saber depois, não havia armas nenhumas e era apenas para puderem destruir o governo de Saddam Hussein que os não os deixava explorar a preço de banana o petróleo do seu país. Isto ficou provado quando mesmo depois de se provar que não tinha armas perigosas, ainda assim o caçaram no esconderijo onde havia se escondido e ordenaram os seus comparsas iraquianos da quinta-coluna enforcarem-no.
Eu trago de volta esta tragédia iraquiana porque sou tentado a assumir que a detenção de Chang é a continuação da empreitada política dos EUA já há muito em curso e que agora será intensificada por todo o ano de 2019 que amanha começa, para que se manche mais ainda o governo moçambicano da FRELIMO agora sob a liderança de Nyusi que os EUA nunca a viram com bons olhos desde que este Partido ousou lutar contra o colonialismo português que era um dos mais leais aliados dos EUA.
Na óptica da estratégia do Regime Change, que os EUA e outras potências a si alinhadas têm estado a tentar concretizar, é imperioso que se faça tudo para que haja cada vez mais moçambicanos que encarem os dirigentes da Frelimo como os maus da fita ou ladrões ou gatunos, para que quando se fazer as eleições gerais que terão lugar nos finais de 2019, as perca e seja eleito um partido menos dado à defesa dos interesses nacionais como aconteceu no Iraque e noutros países onde se derrubaram os partidos nacionalistas. Esta é, para mim, a razão da detenção de Manuel Chang a mando dos EUA. Faço esta assumpção valendo-me dos factos históricos que provaram que sempre foi assim que se mudaram os regimes que não serviam os interesses das super-potencias hegemonistas como os EUA. Ou será desta vez que não será assim? Não acho que seja desta vez que não será esta a sua estratégia!
(Por Dr. Gustavo Mavie in facebbok)

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