terça-feira, janeiro 22, 2019

Afinal a culpa não era de Mugabe!


Estava eu em Bruxelas quando se deu o “golpe de estado” contra o amado presidente Robert Mugabe. As televisões das principais cidades europeias, numa descomunal alegria, transmitiam as imagens da queda do “pai da nação zimbabweana”. Apesar de sucessivos bloqueios, Zimbabwe estava a erguer-se, até que o “golpe militar” destruiu irremediavelmente o “pólen da esperança” que crescia e florescia nos corações dos zimbabweanos.
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Nessa noite do “golpe palaciano”, meu cunhado e antigo farmeiro do Zimbabwe, ligou-me e estranhamente disse-me que “os zimbabweanos escolheram o caminho da perdição. Tiveram pressa de mudança ignorando a dimensão internacional do problema”. De facto, aprendi com a idade, que quaisquer que sejam as mudanças precisam de ser previstas, planeadas e acauteladas. Os zimbabweanos, hoje, estão a apagar a factura do “golpe”.
Resultado de imagem para mugabe malaguenaAs palavras do meu cunhado, “inimigo figadal” de Mugabe, puseram-me a pensar seriamente no futuro do Zimbabwe. Uma pessoa com dois dedos de testa facilmente compreendera que o “golpe” tinha sido um convite para pacificação das relações com o passado. Isto é, com os antigos “patrões do Zimbabwe”. O mal dos “golpes” é mudar de sistema e não de ideologias. Os farmeiros brancos e a “fauna acompanhante” aperceberam-se de que falsos eram os anúncios da inauguração da nova era para o Zimbabwe. Como dizia um amigo “É como dar isca ao peixe na geleira”.
Mugabe deu aos zimbabweanos o que nenhum outro líder africano foi capaz de dar: pátria e o direito de propriedade. Acabou com o domínio racial, equilíbrio que lhe valeu “uma coroa de espinhos”. Não foi Mugabe que destruiu o Zimbabwe, pelo contrário, foram um conjunto de países europeus apadrinhados pelo antigo colonizador. Mas Mugabe desafiou-os, só não conseguiu vencer a guerra contra os cobardes internos, “os golpistas”. Enquanto presidente da República do Zimbabwe, Mugabe colocou-se ao serviço do seu povo.
Imagem relacionadaHosiah Chipanga, célebre músico zimbabweano com fortes raízes moçambicanas, escreveu belíssimas e poéticas canções que dizem mais ou menos o seguinte (tradução livre): “Mugabe dá, mas algumas pessoas não têm juízo, porque roubam e vendem os produtos nos países vizinhos”. E diz mais: “algumas pessoas não se contentam apenas com os ovos, querem também as galinhas; não se contentam só com o leite, querem também as vacas; não se contentam apenas com o mel, querem também as abelhas”. E num outro trecho musical, para relevar às questões da igualdade e justiça, características natas de Mugabe, Chipanga remata: “Mugabe tem azar. Agora que as coisas estão difíceis, todo mundo diz que Mugabe esqueceu-se de nós. Mugabe ofereceu-nos tudo, infelizmente não tivemos iniciativa nem inteligência! Quem mandou roubar dinheiro nos bancos? Quem mandou vender farinha em Moçambique? Quem mandou vender milho e açúcar na Zâmbia? Quem mandou vender fertilizantes? Quem mandou vender combustíveis destinados às farmas? Quem disse que fazendas são para cinco pessoas?”
As manifestações em curso no Zimbabwe, infelizmente mortíferas, trazem-me uma esperança. A população está disposta a corrigir os erros da sua escolha. O agravamento do preço dos combustíveis deve criar uma forte combustão para afastar os “golpistas” do poder. O poder deve ser devolvido à Mugabe, nem que seja para governar morto. Somos africanos, a espiritualidade é uma realidade insondável. Por isso, encorajo aos grevistas que continuem com a marcha libertária. As manifestações não agradam os detractores de Mugabe, afinal ele sempre esteve no rumo certo!


Centelha por Viriato Caetano Dias
Extraído de uma conversa com Professor Silvério Rocha e Cunha em 25/03/2011.


Zicomo (obrigado) e um abraço nhúngue ao Calisto, que lê as minhas centelhas a partir de Manica. WAMPHULA FAX – 21.01.2019

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