Quando junto as
críticas que ouvi em todo o lado e de outras que li em alguns jornais em torno
da festa do Presidente moçambicano, Armando Guebuza, para assinalar o seu 70º
aniversário natalício, sou tentado a concordar com o académico moçambicano,
Elísio Macamo, de que tal criticismo não passa de demagogia.Mas antes de
sustentar porque é que concordo com Macamo, nesta sua conclusão plasmada num
artigo publicado na edição de quarta-feira do jornal “Notícias”, faço questão
de recorrer ao Dicionário Verbo, para explicar o que é DEMAGOGIA àqueles que
ainda não sabem o significado exacto desta palavra.O Verbo define Demagogia
como sendo um “Exercício de retórica fácil, com vista à obtenção ou tentativa
de obter o poder político, que faz apelo às emoções da população, em detrimento
do uso da lógica e da racionalidade...a demagogia é uma prática que acaba por
se virar contra o povo”.A excepção dos indivíduos que possam estar a criticar
aquela festa porque estão mal informados, também acredito que há efectivamente
os que fazem essas críticas por mera e deliberada demagogia, convencidos que,
com isso, irão ganhar o poder político, ou então ajudar os partidos que
defendem a conquistar o poder que há 38 anos está nas mãos da Frelimo de
Guebuza.É de facto demagogia quando alguns jornais chegam ao cúmulo de escrever
artigos do tipo “O Banquete dos Insensíveis!!!, para tentar levar as pessoas a
acreditarem que Guebuza esbanjou fundos públicos para a aquisição de comida e
bebidas, numa altura em que milhares de pessoas passam fome vítimas das cheias
que nos últimos dias assolam o nosso país.Na verdade, muito do que se diz sobre
a faustosidade daquela festa não passa de um exagero, porque não foi faustosa e
muito menos esbanjadora. A mesma decorreu numa tenda tão comum como as que se
podem encontrar em muitas explanadas que há por aí, e em que se fazem festas de
muitos de nós.Eu por acaso fui uma das pessoas que, juntamente com alguns
colegas jornalistas participamos no evento, e não me pareceu uma festa cara
quando comparada com aquilo que o aniversariante fez para nós seus
compatriotas.Guebuza foi um dos moçambicanos que durante 10 anos lutou pela
independência do nosso país, bem como aceitou deixar tudo, incluindo a sua
família, para se fixar em Roma e negociar durante mais de dois longos anos a
paz que hoje desfrutamos há 20 anos.A festa do aniversário de Guebuza foi na
essência um simples almoço. Os pratos consistiam na sua maioria de arroz,
feijoada, matapa, cacana, chiguinha, mukapata, nhangana, carril de amendoim,
algum camarão, carne de vaca, de porco e de galinha e algumas saladas e frutas
da terra, ou seja aquilo que nos como cidadãos comuns comemos todos os dias.Por
aquilo que tive a oportunidade de apurar, parte considerável dos produtos com
que se confeccionaram os pratos foram doados. Nos casos em que foi necessário
adquirir no mercado, o seu custo naturalmente não foi além do normal para a
dimensão do aniversariante, cuja trajectória política e humana mostram que ele
fez muito pelo nosso país. O evento foi apenas uma ocasião para Guebuza
celebrar os seus 70 anos de vida com aquelas pessoas que ele considera como
sendo o sinónimo da sua própria vida, ou indivíduos que ele acredita serem
representantes de outros moçambicanos de que ele também é seu Presidente.Até os
músicos que emprestaram um ambiente festivo ao aniversário eram quase todos da
geração do próprio Guebuza, nomeadamente Gabriel Chihau, Xidiminguane e Dilon
Djindji.
A sua brilhante actuação acabou reactivando as energias adormecidas pela idade
de outros “velhotes” da geração de Guebuza, inspirando alguns a saltar das suas
cadeiras e improvisar alguns passos, num palco também improvisado.Foi bonito
ver o antigo Primeiro-Ministro, Pascoal Mocumbi, que foi quem tomou a
iniciativa de “abrir a sala”, não obstante a sua idade e que acabou por
contagiar o antigo presidente Joaquim Chissano.Ambos acabaram contagiando
outros convidados, algo que acabou fazendo daquele almoço ser uma verdadeira
festa que agora é demagogicamente rotulado de faustoso.Curiosamente, Guebuza resistiu
ao contágio e não dançou, uma decisão acertada, porque os seus detractores
poderiam pegar isso e catalisar e acusá-lo de insensível, embora passe parte
considerável do seu tempo nas zonas rurais a tentar ajudar os camponeses, que
constituem a maioria da população moçambicana, a saírem da pobreza.É curioso
ainda que os seus detractores o acusam mesmo assim de estar a esbanjar o erário
público com as suas presidências abertas. Mas se o Presidente ficasse confinado
no seu Palácio, certamente que também haveriam de acusá-lo de insensibilidade
aos gravíssimos problemas que ainda afectam a maioria dos moçambicanos que
vivem nessas zonas rurais.
Quer dizer, ele é morto por ter e por não ter cão.
Ainda na semana passada, li o artigo de um dos colunistas que é um verdadeiro
arauto de todos os que são contra Guebuza e a Frelimo, que com as cheias,
iriamos assistir a um verdadeiro turismo dos frelimistas que se vão deslocar às
zonas alagadas, alegando que querem se inteirar das destruições causadas pelas
cheias.Mas se cancelarem as visitas também serão acusados de insensíveis.Isto prova
que quando determinadas pessoas detestam alguém, mesmo que nos casos em que
nada de mal faz, acabam inventando sempre um crime para se atribuir a essas
pessoas.
Quanto a mim, Guebuza, bem como todos os vivos e mortos que nos resgataram da
trágica noite colonial e racista, merecem de nós mais e abundantes festas e
homenagens, porque são uma das formas de os agradecermos.Merecem porque sem
eles, poderíamos estar ainda na cova da morte comum em que os nossos
multiplicados inimigos nos tinham atirado passavam 500 longos anos.Para mim, se
fosse possível, deveríamos erguer uma estátua em cada local onde seja sepultado
um antigo combatente pela nossa independência, do mesmo modo que se devia fazer
o mesmo pelos compatriotas que defenderam de armas na mão, a nossa Pátria da
agressão do regime do apartheid que tinha como sua mão a Renamo.Guebuza e todos
os que com ele celebraram os seus 70 anos, não são insensíveis. O que se fez
foi celebrar o aniversário de um dos seus companheiros de luta de ontem e da
luta de hoje.É demagogia considerar Guebuza de insensível, quando a sua
sensibilidade ficou mais do que comprovada ainda muito jovem, quando deixou
tudo e enfrentou todos os riscos e até prisões, e caminhou muitas vezes a pé,
até conseguir ir juntar-se à Frelimo em Dar-es-Salaam em 1963, para lutar
contra o colonialismo.Guebuza só regressou em 1974 quando ele e os outros
companheiros, como Joaquim Chissano, Jacinto Veloso, Pascoal Mocumbi, Óscar
Monteiro e muitos e muitos outros, derrotaram o colonialismo português que nos
oprimia. É demagogia acusar Guebuza e todos os que celebraram com ele o
seu aniversário natalício como sendo insensíveis ao sofrimento do povo.Aliás,
muitos dos que lá estiveram, como Chissano, Mocumbi, Gundana, Jacinto Veloso
deram inúmeras provas do seu amor por esta Pátria e seu povo.Basta dizer que
fazem parte de um grupo de moçambicanos que de armas em punho lutaram para
erradicar o colonialismo português.Na verdade, aqueles que agora apregoam a
insensibilidade de Guebuza e de seus camaradas, comiam animadamente nas
faustosas festas dos colonialistas, incluindo alguns dos donos dos jornais em que
se publicam artigos que fazem essas acusações de insensibilidade.A única coisa
que se publica nesses jornais, ou que eles próprios escrevem ou mandam
escrever, é sistematicamente contra o governo, e a única coisa que para eles é
bom, é a oposição. O resto é ruim, não obstante o nosso País seja um dos 10 que
neste Mundo que está a braços com uma grave crise financeira, está mesmo assim
a registar um excelente crescimento económico que o faz estar nas primeiras
páginas dos maiores jornais do mundo pelas coisas boas e não pelas más.Os
jornais referidos falam de Moçambique como sendo um dos que integra esse
grupinho de 10 nações que registam o crescimento mais rápido do mundo inteiro,
não obstante tenha saído de uma devastadora guerra há apenas 20 anos. Mas para
os donos desses certos jornais que se publicam aqui no nosso Pais, todos os que
ousam falar dessa verdade aqui no nosso País, e que não falam mal do governo,
são lambe-botas, são frelimistas, são arautos do governo, são defensores
ferrenhos do regime ... são e são sempre ruins e nunca boas pessoas.Não será
isto mesmo uma revelação de que estamos perante novos potenciais colonialistas
que estão contra o nosso governo?
A isto chama-se força do ramerrão, que reage sempre a todas as inovações ou
mudanças que ponham em causa aquilo que só beneficiava a eles só e não a nós
todos.É demagogia acusar Guebuza quando foi ele que uma vez mais, viria a
aceitar, 16 anos após voltar da luta pela independência, deixou de novo tudo e
ir fixar-se em Roma, onde negociou com a sua sabedoria, durante mais de dois
anos, a Paz de que desfrutamos agora há mais de 20 anos.(Gustavo Mavie)
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