segunda-feira, setembro 12, 2011

Divisão na Frelimo é improvável

Os últimos telegramas descarregados semana passada pela Wikileaks prometem provocar cismas no seio do partido Frelimo no poder desde a proclamação da independência nacional há 36 anos. Leonardo Simão, antigo ministro dos negócios estrangeiros no consulado de Joaquim Chissano e Amade Camal, membro da Frelimo e destacado empresário do ramo automóvel, são citados nos telegramas expeditos por Todd Chapman (actual ministro conselheiro da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília) a partir de Maputo para Washington. Amade Camal disse que membros da direcção da Frelimo – incluindo actuais ministros – possuem fortes ligações com conhecidos narcotraficantes afeitos à lavagem de dinheiro e que o governo de Moçambique tem manipulado importantes figuras com o intuito de obter auxílio nas operações de branqueamento de capitais, descrevendo o chefe das Alfândegas como o ‘Rei da Corrupção’”. O relato é de Todd Chapman, antigo encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos e faz parte de mais um relatório secreto, 09MAPUTO611, tornado público pela Wikileaks. Em Maio de 2009, altura em que o documento foi escrito, Domingos Tivane já era o ‘chefe’, Director Geral, das Alfândegas de Moçambique. Em carta resposta a uma notícia publicada pelo mediaFAX, Amade Camal diz : “em nenhum momento posso ter acusado Dr. Domingos Tivane, com quem mantenho um bom relacionamento privado e institucional”. Contudo, Camal reconhece que se encontrou com Chapman “várias vezes informalmente”. O Presidente Guebuza é mais uma vez acusado pelos membros da Frelimo. “Camal, interessantemente, descreve o tipo de corrupção de Guebuza como ‘mais benigna, um tipo que realmente não atinge as pessoas pobres’. Ele alega que o Presidente e seus seguidores não se apropriam de fundos ou requerem propinas. Porém, os seus agentes económicos garantem que Guebuza tem uma posição minoritária em alguns dos mais importantes empreendimentos do país, incluindo a telefonia móvel Vodacom”, refere Chapman. Sem citar Guebuza, Camal escreveu ao mediaFAX que as informações da Wikileaks são “deliberadamente postas a circular. Com um único objectivo de nos (países em desenvolvimento) distrair, enquanto se preparam ‘primaveras quentes’ ou ‘assaltos à mão armada’ como foi na Líbia”.Leonardo Simão, ex-ministro do governo Chissano, volta a ser fonte dos relatórios americanos. “Simão acredita que o Presidente Guebuza está directamente envolvido em actividades corruptas, dizendo que ele ‘controla o Partido como a máfia’, com os seus familiares ou seguidores envolvidos em significativos acordos comerciais. Outros homens de negócio têm expressado a mesma frustração, é impossível fazer negócio sem o ‘envolvimento’ das elites políticas”, anotou Chapman.Amade Camal e Leonardo Simão observaram ao diplomata americano que o crescimento da oposição através do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) poderia contribuir para a luta contra a corrupção, reivindicada sobretudo pela cooperação internacional, porém sem medidas efectivas. Ainda que reconheça as divergências internas na Frelimo em razão dos privilégios do grupo de Guebuza, Simão duvida que o partido possa dividir-se. “Ele alega que os mesmos que se queixam de reformas lentas reconhecem a falta de oportunidades de emprego ou de avanço económico fora dos seus empregos no governo ou dos seus privilégios partidários. Simão relata como ele e Chissano lideraram um grupo investidor que desejava estabelecer uma companhia aérea privada para competir com a empresa do Estado. Ele afirma que um dos filhos de Guebuza apareceu em seu escritório para dizer-lhe que queria estar envolvido”.As notas finais de Todd Chapman concluem que “os dois membros da Frelimo apontam a crescente corrupção, possíveis ligações ao narcotráfico e divisões no partido. Embora haja uma insatisfação clara no partido com as práticas de corrupção dos seus membros, bem como um ressentimento daqueles que estão fora do círculo de Guebuza, uma divisão na Frelimo permanece improvável.”

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