quarta-feira, fevereiro 20, 2019

Atrocidade contra o ecossistema marinho


Viva malta!
Hoje vive um pesadelo que julgava que nunca fosse acontecer.
Estou hospedado em casa de um amigo na ilha  da Inhaca, com um pessoal nórdico amantes da caça-submarina e do mergulho livre ( apnéia), de alguns dias para cá as sessões não tem sido muito gloriosas, pois ventos, vagas e ondas grandes, combinado à uma visibilidade leitosa  (não limpa) e por vezes tubarões, porém nada justifica a estes "vikings" da Dinamarca cancelar a expedição.

Está manhã, acordamos com chuva, céu muito nublado cinzento e seguimos ao Poço, ponto ou marca de mergulho combinado no jantar do dia anterior para iniciar a terceira jornada/aventura, quando lá chegamos via-se ao longe ( muito fosco) barcos ou embarcações de pesca industrial, os tais polêmicos vindos do Oriente, sim, Oriente para não mencionar o nome da nação que tanta boa gente tem que nada têm haver com este assunto. Contei de forma rápida  pelo menos 4 embarcações, todavia, quando o sol abriu um pouco mais e deixou ver melhor ao longe, o número subiu para 17 barcos a aproximadamente duas milhas de nós, que a chuva não deixava antes ver, todos estacionarios ou ancorados, bem, entramos para o mar à dentro, felizmente ou finalmente a água estava com tom azul escuro, muito limpa, cristalina, como geralmente temos chamado, mas para o nosso espanto nem sequer um tubarão foi visto por nós, facto muito raro no Poço!
Depois de várias navegadas e mergulhos aos pontos ou marcas secretas que guardo, terminarmos a nossa expedição num ponto conhecido por muitos como B24, aliás, foi um grande parceiro meu quem estabeleceu este nome, na altura estava com ele no barco e achávamos que a marca tinha como parte mais baixa 24 metros, então assim ficou nomeado no GPS por B.(baixo) 24, para depois virmos a confirmar que de facto tinha -22metros, refiro-me a parte mais baixa, pois há tempos era um dos melhores pontos que a malta tinha, caracterizado por falésias tanto a Norte como à Sul que descaem  rapidamente para os - 50 metros de profundidade, a Este apresenta um perfil muito extremo com uma longa quebra aonde geralmente víamos os raríssimos atuns dente de cão, hoje este ponto/marca está tão " batido" que as primeiras imagens ficaram somente nas memórias, pois nem um peixe serra, nem um xaréu à vista, parecia que tinha ali rebentado uma bomba, uns peixinhos amarelinhos ali e acolá nada da especial para o que procurávamos, (grandes peixes pelágicos). Enfim, fomos curtindo os mergulhos em apnéia de fuzil em mão, não fosse passar um tubarão com más intenções para nós, assim o fuzil serviria para blicar, afastar ou repelir.
Como estamos hospedados na Ilha, não tínhamos que partir de regresso cedo, como quando temos que regressar à Maputo e temos que  enfrentar mais ou menos trinta milhas de mar e baía.
Então ficamos no ponto na espetactiva que a hora mágica, quando o sol começa a pôr-se fosse trazer peixes predadores grandes, porém, quando eram 16:45h, em vez de peixes pelágicos, começaram a aproximar-se de nós  barcos industriais, que navegavam aos pares, lado a lado, perdi a conta de quantos eram, talvez trinta, pois eram muitos todos semelhantes uns aos outros, pareciam clones de barcos que vinham nascendo do alto mar, com uma estrutura  um pouco " sinistra", enferrujados, longos, estreitos e barulhentos de fora e por baixo de água, dava receio ficar ao pé deles áquela hora do fim da tarde, pois já se encontravam a sensivelmente 600 metros de nós, ademais era impossível continuar o mergulho com tanto barulho estrondoso das máquinas e ou motores que se propagava até nós quando estávamos no fundo " bum-bum-bum..." um estrondo intermitente muito forte mesmo, se é possível escutar-se anéis a tocarem-se do outro lado da piscina, imaginem então mais ou menos 30 embarcações industriais o que podem fazer em termos de estrondo sonoro!
Diante disto e  porque haviam outros barcos semelhantes ou da mesma linha/frota no ponto Jeremias, decidimos então abortar o mergulho e seguir para Ilha, lugar aonde comentei o sucedido ao Sr. "António", este não ficou surpreso  com o que lhe falará, pois ele vive na zona do Farol e diz que lá vê tudo, e " todas as noites esses piratas aproximam-se à costa da Ilha do lado oceânico e por volta das 4 horas da manhã retiram-se, todos os dias e já lá vão meses que é assim..."
Mal sabe o Sr. "António" que não são piratas, pois todos eles estão licenciados pelas autoridades marítimas locais.
Não sei se é coincidência não se ver nenhum peixe de passagem a está altura do verão, ou se são as mudanças climáticas, ou estas depressões com ventos e chuvas quem tem ocorrido, sei que nunca me aconteceu em vinte e cinco anos que prático está modalidade testemunhar em pleno Fevereiro, com a temperatura de água a 26/27 graus Celsius, fim da tarde, maré quase cheia em marcas ditas " quentes" estar tão fraco.
Parece-me que a corrida para o extermínio oceânico da parte do território moçambicano já foi desenfreada a passos muito largos.
Fiquei muito triste, e os nórdicos vikings como os chamo também.
No jantar já de regresso ao nosso acampamento, conversávamos sobre dicas de como ir mais fundo em segurança no mergulho livre, apnéia, mergulho sem auxílio de aparelhos respiratórias, estes perguntaram-me em forma de mudança de assunto o porquê dos jovens moçambicanos não se insurgirem com tamanha atrocidade contra o ecossistema marinho de Moçambique, ora não tive resposta plausível, pois sou parte desses jovens que nada faz e só fala, disse-lhes que o assunto do mar ainda é muito mitigado, pois dentro da faixa literada dos jovens com certa educação  há quem julga que as iguarias do mar ( camarão, lagosta, caranguejo, gamba, lagostim, peixe, bivalves ( amêijoa, ostras, mexilhões etc...)) e tudo mais que ainda nem sabemos da sua existência vem ou nasce do fundo do mar, tal como nasce o capim na floresta, aliado ao facto do desconhecimento, pois àquelas embarcações não regressam ao Porto, pelo contrário descarregam o pescado às toneladas ao  navío mãe " mothership",  deixando tudo no anonimato, aonde não existe fiscalização absolutamente nenhuma, em águas que os nossos jornalistas nem pensam nunca chegar, sim, lá aonde os jornalistas nunca se arriscariam a pôr lá os pés, aliado ao facto de que o perigo é sempre eminente, pois nessas águas não há nenhum género de autoridade policial. E mesmo que houvesse seria sempre a mesma cantiga, pois tantos outros assuntos problemáticos que nascem em terra e não têm desfecho quanto mais no mar alto. Tantas atrocidades sobre a Madeira, marfim, rinoceronte (corno), pangolim, barbatana de tubarão etc não tem desfecho, ninguém sabe de nada, e agora problemas no mar alto muito menos, afinal o que os olhos não vêem a alma não sente.
Confesso que temos receios, sabemos que por de trás existem graúdos os ditos "madotas" da nossa etnia "moçambicanoide".
Houve quem disse que "os tempos são outros, forças da mudança" parece-me que mudanças para pior.
Não sou biólogo nem vidente, mas digo com muita certeza, a catástrofe do mar territorial de Moçambique já iniciou, vai ficar para história dos  nossos descendentes, estes provavelmente saberão distinguir arroz plástico do orgânico, eu ainda não sei.
Há uma pequena etnia, mas grande nação que a duzentos anos no mesmo contexto inventou uma ferramenta muito útil, para os mentores desses projetos, essa ferramenta denomina-se até aos dias de hoje por guilhotina.
:(V.S in facebook)

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