terça-feira, abril 17, 2018

VOTAÇÃO IRRESPONSÁVEL ?


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 "Nem sempre o que é apoiado pela maioria é que é correcto ou bom."
Margareth Thatcher





A conceituada revista britânica 'The Economist', que neste ano completa 75 anos desde que começou a ser publicada em 1843, contém na sua edição de 10 de Março último, um artigo que analisa com inusitada profundidade, a tendência geral dos eleitores dos países com democracia multipartidária em África, Américas, Ásia e na Europa, onde a maioria tem votado mais pelos novos partidos populistas e não pelos mais estabelecidos ou históricos com uma longa experiência governativa.
Nesse artigo intitulado 'A Vote for Irresponsability' (ou Um Voto pela Irresponsabilidade) e que me inspirou tanto o título como este artigo, tem como principal tema as últimas eleições gerais italianas, realizadas a 4 de Março último, em que os partidos históricos sofreram derrotas humilhantes, enquanto os de tendência populista que foram formados nos últimos anos, tiveram a preferência da maioria dos eleitores. 
O 'The Economist' diz que o que é mais alarmante é que dois dos novos partidos mais votados são exactamente os mais populistas, porque prometeram o irrealizável aos cidadãos italianos. Trata-se do Movimento 5 Estrelas (M5E), fundado há menos de cinco anos pelo comediano italiano Beppe Grillo, mas que agora é liderado pelo seu comparsa Luigi Di Maio, e a Liga Italiana (LI), sob a presidência de Matteo Salvini. 
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Praticamente, o M5E e a LI passam a ser pela primeira vez os principais partidos da Itália, colocando assim na cauda todos os antigos que durante décadas governaram aquele País europeu. Estas eleições italianos são já tidas como um "desastre político" para aquele País. É um DESASTRE POLÍTICO que me parece que poderá ocorrer também em Moçambique, se nada licitamente contrariante for feito com urgência, dado que tenho notado que há cada vez mais moçambicanos que afirmam que irão votar contra o seu partido histórico, que é a Frelimo, durante as próximas eleições municipais de 10 de Outubro próximo e as gerais de 15 de Outubro do próximo ano. 
Uma das antecâmaras desta tendência pro-partidos populistas com agendas irrealistas foi, a meu ver, a vitória de Paulo Vahanle na Intercalar de Nampula, porque também pescou o eleitorado com promessas tão falsas quanto dos charlatães que dizem ter medicamentos que curam tudo, como a SIDA, ou que podem nos enriquecer ou fazer com que uma mulher muito bonita ame loucamente qualquer homem. Uma das suas falsas promessas de Vahanle foi dizer que caso fosse eleito, daria emprego a todos os jovens da cidade de Nampula, e resolveria o problema do lixo que se acumulou após o bárbaro assassinato de Amurane em seis meses. Estas promessas revelaram em ponto grande esse populismo de que fala o 'The Economist'. É que seis meses é o tempo que alguém precisa para se inteirar desses problemas e reunir depois os meios com que os resolver. 

Resultado de imagem para coligacao alemanhaO 'The Economist' vinca que o que é mais alarmante e preocupante é que a Itália é apenas um de tantos outros países dos cinco continentes que viram os seus partidos históricos serem preteridos pela maioria dos seus eleitores a favor dos recém-constituídos, que têm como 'modus operandi' o tal populismo puro. O que é mais preocupante é que esta febre populista afecta mesmo os países cujos povos vivem num bem-bom, como é a próspera Alemanha, onde ocorreu quase o mesmo durante as eleições realizadas em Setembro do ano passado, a tal ponto que o país ficou seis meses sem governo até Março último. O partido CDU no poder já há 21anos, de Angela Merkel, acabou sendo forçado a fazer uma grande coligação com vários partidos para que pudesse finalmente constituir neste mês um Executivo com um mínimo de condições para governar com alguma estabilidade. Teve de se coligar porque o CDU teve apenas 33% dos 61 milhões de alemães que votaram, de um total de mais de 81 milhões que são podiam votar. 
Outro dos países europeus que regista uma tendência de se votar os partidos com menos experiência por prometerem mais do que Deus pode atribuir, é a Noruega, o único país do mundo cujo povo se assume feliz, porque já tem tudo o que quer, mas que ainda assim não está nada feliz com os políticos que os lideraram para o bem-estar absoluto em que está. Tal insatisfação política viu-se durante as últimas eleições do ano passado, em que o Partido Trabalhista (PT) no poder, a quem se atribui em parte o mérito de ter ajudado a catapultar os noruegueses ao bem-estar em que vivem, teve apenas 27% dos votos, ou 49 dos 169 assentos do Parlamento. Isto traz de volta o caso de do então Primeiro-Ministro britânico Winston Churchill, que perdeu as eleições gerais depois de ter liderado a Grã-Bretanha durante a II Guerra Mundial até à vitória dos aliados em 1945. 
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Essas eleições foram então ganhas por outro populista, Clement Attlee, porque prometeu o que chamou dum novo "contrato social" para todos os britânicos, aproveitando o seu cansaço pepel guerra e pelo racionamento dos produtos alimentares básicos, como acontecia com os moçambicanos durante a guerra dos 16 anos. 
Esta tendência de se punir os partidos no Poder ou antigos é geral, como se viu também na França, onde o seu eleitorado atirou para o lixo as formações históricas e elegeu o recém-formado partido de Emanuel Macron, bem como nos EUA onde se assume que todos têm tudo, mas que entretanto o seu eleitorado catapultou o empresário e apolítico Donald Trump à Casa Branca, onde tem estado a revelar as suas incongruências, e que levam mesmo os que votaram nele a se arrependerem. Tal como na Alemanha, o PT viu-se forçado a se coligar com mais cinco partidos para poder formar um governo representativo. 
Resultado de imagem para Donald TrumpComo se pode ver, mesmo os povos cujos países são já Paraísos na Terra aos olhos de quem ainda vive nos que estão ainda na estaca zero do seu desenvolvimento, são manipulados pelos populistas que os prometem melhores paraísos, como o fez Trump quando prometeu aos seus compatriotas que faria da América "grande outra vez" e resgataria os empregos que alegou terem sido roubados pela China. Agora que ganhou as eleições ele está na verdade reduzindo a sua grandeza com as asneiras que vai cometendo. Entre elas destaco as guerras bélicas que vai movendo, como os bombardeamentos que moveu agora contra a Síria, e as económicas contra a China e a Rússia, bem como contra os seus vizinhos, mais concretamente contra o México onde já começou a preparação da construcao do tal murro.

Como dizia num artigo que escrevi a 30 de Março último, antes mesmo de ler esse do 'The Economist' que acabou inspirando-me este, reitero que tenho notado que há cada vez mais compatriotas que estão sendo persuadidos pelos populistas, para que votem neles, mas que a meu ver só levarão Moçambique ao abismo em que sempre tentaram atirá-lo pela força das armas que vêm empunhado há 42 anos já. Cheguei a esta conclusão na base de algumas auscultações ao nível das zonas urbanas em particular, que agora cimentei mais ainda com o que li neste artigo da 'The Economist'. 
O que é que mais preocupante para mim é que entre nós não temos só populistas, como temos políticos que não valorizam a própria vida humana, dado que ao longo de vários anos só mataram impiedosamente os seus próprios compatriotas. Quem tentar negar este facto que estou aqui a dizer, é o mesmo que negar que o Sol existe, que nunca o viu, que jamais o iluminou ou que nunca o queimou com o seu calor. O facto inegável é que temos pelo menos um partido que está sendo mais preferido, mas que nos caçava sem piedade até ao Natal de 2016, ao mesmo tempo que nos metia medo de viajar à vontade, só para forçar o Governo de Nyusi a entrar num pacto que lhe permitisse governar também mesmo que não tenha ganho as eleições à luza das leis em vigor no país, que determinam que só governa quem tiver 50% por cento dos votos mais 1 na contagem geral.
Resultado de imagem para samora  Khadafi O que é mais triste é que entre os problemas que nos afectam agora, há muitos que foram provocados pelos mesmos partidos que agora prometem nos levar ao paraíso, quando na verdade só nos empurrarão cada vez mais para o inferno, uma vez que nem sequer conseguem organizar-se no seu próprio seio, não obstante alguns deles existam há 42 anos já. Este é o caso da RENAMO, que foi criada um ano depois da nossa independência, isto é, em 1976, e que viria a iniciar uma guerra sem quartel em 1977 contra o governo de Samora Machel, o proclamador da nossa independência em 1975. A RENAMO encaixa na definição feita por Khadafi no seu 'O Livro Verde', de que "o partido da oposição que deseja alcançar o poder, opta por sabotar as realizações do governo para o desacreditar perante o povo".
Resultado de imagem para samora  Khadafi O que temos que nos perguntar é porquê é que esta mesma Renamo começou a mover uma guerra contra o fresco governo de Samora Machel, não obstante fosse constituído por moçambicanos de todas as regiões de Moçambique e de todas as etnias e raças que comprazem o multirracial povo moçambicano, como se pode ver através das fotografias da época que estão nos arquivos e na mágica Google. Se não fazermos isso, nunca ganharemos o juízo como nos instou Elísio Macamo num célebre artigo que publicou há semanas, em que nos alertando sobre o perigo que corremos de querer alternância a todo o custo, sem avaliarmos bem quem tomará conta do leme do nosso País. Se não ganharmos o tal juízo, não tardará muito que acordaremos no abismo que está sendo cavado pelos tais partidos populistas de que fala o The Economist. 

O 'The Economist' aponta algumas das causas comuns que provocam a crescente rejeição dos partidos históricos e fomentam esta tendência de se votar mais pelos novos. Aponta, entre outros, o acentuado desemprego entre jovens de ambos os sexos na fasquia etária dos 15 aos 24 anos, a estagnação dos salários em contrapartida com o crescente custo de vida, que está afectando a maioria das famílias mesmo nos países ocidentais, incluindo nos EUA onde mais de 56% dos habitantes confessam que já não aguentam mais com a carestia da vida, e a percepção de que os políticos só se servem mais a si próprios e não aos que os colocam no poder---que é o povo que vota neles.
Estas causas já tinham sido diagnosticadas no começo da década de 90 pelo então Secretário-geral da ONU, Boutros-Boutros Ghali, quando em oposição às políticas económicas desumanas da globalização económica, alertava que ao se favorecer mais a acumulação da riqueza nas mãos dos privados com a bênção dos próprios políticos, tal causaria um divórcio entre estes e os seus povos. 
Volvidos pouco mais de 20 anos, esse divórcio já está a acontecer. Só que como os próprios divórcios entre os casais, o mais provável é que deixarão um sabor amargo para ambos, porque está mais que provado que as novas formações políticas que estão sendo mais votadas não irão proporcionar os paraísos que prometem. O que os seus fundadores querem mesmo é se valerem dessas falsas promessas para chegaram também ao poder, e desfrutarem dele até ao dia em que serão também pontapeados, tal como aconteceu já com vários outros populistas na História de muitos países, entre os quais destacou pela afinidade connosco, o então sindicalista zambiano, Frederikc Chiluba, que derrotou o partido independentista UNIP, do Pai da Nação zambiana, Kenneth Kaunda, na mesma década de 90. 
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É imperioso dizer que o entao falacioso Chiluba praticou uma grande corrupção que dizia que iria combater até ser levado à barra do tribunal, como não conseguiu dar leite e mel a todos os zambianos como havia prometido, e deixou a Zâmbia pior do que quando era governada por Kenneth Kaunda. Com Chiluba ficou provado que nem sempre o que é preferido pela maioria é bom como dizia em vida Margareth Thacher. Eu podia dar muitos outros exemplos da nossa região como do resto do Mundo que provam que os populistas não têm força mágica nem remédios milagrosos para proporcionar a cada um e todos os seus compatriotas a abundância. Não é por acaso que Martin Luther King Jr. avisou há mais de 60 anos, que O Estado de abundância não é algo que se encontra, mas que se faz com o trabalho árduo. Não há governos que dão tudo o que cada um dos seus cidadãos quer. Infelizmente noto com preocupação que há cada vez mais compatriotas que acreditam cegamente que há partidos-deuses que nos darão tudo numa bandeja. Quem assim acredita é ingénuo. O bem-estar de cada um de nós virá do trabalho árduo de cada um de nós e obviamente de todos nós. 
E no caso dos jovens, tudo deve começar pelo estudo sério e não pela arte de bem cabular que tem sido o modus operand de muitos deles. Temos de aprender com o exemplo dos chineses que há 30 anos acordaram e assumiram o trabalho árduo como religião da sua salvação. Alguma coisa está mal connosco próprios, porque cidadãos de outros países que aqui se fixaram estão prosperando por entre as nossas lamentações, como são os casos dos portugueses que estão fazendo negócios, dos da Ásia que fazem o mesmo, até mesmo dos da nossa África, como os da região ocidental africana que aqui criaram pequenos e grandes negócios e estão enriquecendo a olhos vistos! 
Resultado de imagem para interrogacaoNão é por acaso que o filósofo alemão Goethe dizia que a miséria que te oprime não tem nada a ver com a sua profissão mas consigo próprio, porque a mesma profissão faz prosperar outros. Temos que acordar do longo sono em que a maioria de nós está, e deixarmos de acusar o nosso governo de nada fazer por cada um de nós. Falei longo? Sim, falei mas é imperioso debatermos com franqueza e de forma directa todos os problemas que nos afectam, antes que se tornem insolúveis. Eles não se dissiparão nunca por negar a sua existência---só falando com frontalidade é que chegaremos a um entendimento, porque como bem diz o académico Norman Nel, só as palavras têm o poder de motivar, inspirar, encorajar e mesmo de CURAR. E nós precisamos duma CURA URGENTE E ADEQUADA para não perdermos a nossa VISÃO e o CAMINHO que nos levarão à Terra que nos foi Prometida por Eduardo Mondlane e Samora Machel e por todos os que libertaram este País do tenebroso colonialismo.
 (Por Gustavo Mavie /jornalista)

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