terça-feira, novembro 24, 2009

Aprender a fazer

Quando um país tem um novo governante, de imediato passa a viver uma outra era . Moçambique durante a sua história de nação nunca abertamente foi questionado o que seria a governação de um Presidente com a estatura do Dr. Eduardo Mondlane . Na estrutura dos libertadores da pátria o lugar de um liberal erudito entraram auto didactas moldados pelas dificuldades da vida e conhecimento do mundo. O posto ocupado pelo professor universitário passou para as mãos do funcionário público sem muito estudo, legitimado pela decisão da população. Se Moçambique fosse uma empresa, e a contratação do Presidente estivesse nas suas mãos, contrataria?Não é uma questão polémica e nem de actualidade a qualificação das figuras que têm vindo a assumir a presidência do país. Por ser carismático, bom orador, coerente, ter uma vida ilibada, dedicada à causa do povo , e ser grande conhecedor de Moçambique e dos seus problemas, Samora, Chissano parece terem sido homens certos, no momento certo. Mas e a questão da formação académica? Como foi a sua educação? Ostentam diplomas de vários cursos , aliás, alguns até muito bons, mas que não habilita ninguém a dirigir nada. Quanto a formação, ou falta dela, não só destas ilustres figuras , vale a pena que se diga que se aprende a conhecer nos livros, a fazer explorando as habilidades , aprender a conviver comunicando e aprender a ser respeitado com moral e ética. Isto ajuda-nos a compreender o fracasso pessoal e profissional de algumas pessoas estudadas, e o sucesso, às vezes espectacular, de pessoas que não estudaram, como é o caso do saudoso Presidente Samora Machel. Uma pessoa à qual não escapava nada ou quase nada do que acontecia no seu tempo. O homem é um animal político, e ser político é desenvolver a capacidade de viver em sociedade e também de colaborar para o bem estar e para o desenvolvimento dessa sociedade. Aqueles que possuem ou que desenvolvem essa qualidade de forma mais intensa estão autorizados a ocupar cargos de decisão ou de liderança dentro da comunidade a que pertencem. É o caso de um Presidente da República. E aí está a principal diferença entre contratar e eleger. Contratamos objectivamente e elegemos subjectivamente. Joaquim Chissano talvez não fosse contratado, mas foi eleito.Moçambique elegeu Armando Guebuza porque percebeu nele um conjunto de vontades, que são a vontade de liderar, a vontade de beneficiar os outros e a vontade de se superar, e tudo isso acompanhado por um carisma pessoal que é dele por natureza. Esse conjunto de factores foi mais forte que o currículo académico que também era desejável, mas que não foi considerado o mais importante. O engenheiro Daviz Simango demarca-se pela sua formação universitária , mas Guebuza é “anos-luz” mais convincente.É justo que consideremos importante uma formação global para o cargo presidencial, incluindo aí a formação académica. É justo também que depositemos no nosso presidente todas as esperanças, pois ele fez por merecê-las. Não estaríamos a ser justos se diminuíssemos o valor de Armado Guebuza que chegou lá, afinal de contas, e talvez o seu valor seja ainda maior por ter chegado aonde chegou apesar de tudo, incluindo nesse tudo o facto de não ter passado por uma faculdade. Mas também não seria justo sem reconhecer que ele poderia ter construído uma vida académica, sim, durante os últimos vinte anos em que se preparou para ser líder e chegar a Presidente da República. Guebuza pode ser brilhante, e esse brilho é justificado pela sua biografia ao mesmo tempo que justifica essa mesma biografia. Aprendeu a conviver, a fazer e a ser. Ele é um exemplo para a juventude, mas seria ainda maior, se tivesse estudado.

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