sexta-feira, outubro 31, 2008

Saudades

Já por lá tinha passado.
Tal como eu, muitos outros todos os anos, meses e dias fazem uma paragem obrigatória no Posto Administrativo de Inchope. Descansar,comer e matar a sede são necessidades para quem viaja do norte para o sul ou vice-versa. Acabei por saber por saber um pouco da vida da sua população, os seus sonhos e dificuldades. Tudo numa conversa animada, resultado de um encontro casual com o seu dirigente. Alberto Comití, de seu nome, jovial, de memória fresca e particularmente engajado em responder aos desejos do seu partido e povo. Esta figura que me reconheceu de imediato 20 anos depois de um outro encontro momentâneo na capital. Na cavaqueira este antigo combatente da luta de libertação nacional levou–me aos anos após independencia. Foi um momento agradável. Trocamos opiniões sobre o nosso dia a dia. Pressionado com os afazeres profissionais é verdade, mas acabei por ficar pegado a uma rara e interessante conversa com o combatente Comití, antigo guerrilheiro da Frente de Libertação de Moçambique, na frente Zambézia. Recordarmos o grande movimento sócio-cultural, com os jovens envolvidos em aulas de alfabetização, a criação de círculos de interesse para ocupar os tempos livres, a espontaniedade da juventude ao dançar e cantar Moçambique independente, a participação dos estudantes na marcação de talhões para aldeias destinadas a familias dispersas ,enfim..... no meio de uma castanha aquí, e um gol de sumo de uva avinagrado e bem tinto,viajamos para os detalhes da vida nacional. Lembrava-lhe que tinha passado pelo Posto administrativo de Amatongas, a caminho de Chimoio. Uma sede recém construída, presumo, bonita, pintada, com o emblema e bandeira da república mas que estava despida de qualquer árvore.
- Meu filho isso eu registo como uma preocupação,mas sabe não é preciso que venha o Director ou governador para dizer, põe aquí arvores de sombra, se não tem dinheiro para fazer um muro, utiliza arbustros, planta flôres. O velho Alberto Comiti referia-se a falta de criatividade.
Senti que algo preocupava a este antigo combatente. Mais de que uma vez repetiu a frase: como vai ser o nosso país, se coisas simples como a importancia das nossa datas históricas os nossos filhos não sabem. De facto estava a chamar-me a atenção para este tempo em que a globalização vai impondo outros princípios e valores na organização da nossa vida colectiva e condicionando o nosso quotidiano. O meu amigo Comití com mais de quarenta anos de militancia e combatente pela independencia foi-me dizendo o quanto é importante as crianças saberem a história de Moçambique , para que elas sejam firmes na defesa dos superiores interesses nacionais, e saibam interpreta-los à luz de uma nova realidade. Comodamente sentados, ao som de música e conversa vizinha, o Chefe de Posto de Inchope falou-me também do que estava a fazer para garantir a comercialização do milho da população e o desejo de abrir mais furos de água. Terminamos a conversa, mas na certeza de que um dia voltariamos a falar, nem que fosse por telefone. Uma oportunidade rara para trocar impressões com um antigo combatente da luta de libertação nacional. Porque não sabemos, será dificel valorizar e consequentemente não damos a devida atenção. E foi o que lhe disse: quem não conhece o seu passado tem poucas probabilidades de construir um futuro seguro. O velho jovem Alberto Comití riu-se, deu-me umas palmadas nas costas e levantou o seu copo para um tcim-tchim. Sinceramente, valeu.

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