terça-feira, abril 04, 2023

Há uma nova cidade surgindo em Chimoio…

Perguntei a um amigo, há dias, o que a cidade de Chimoio tinha de novo. E ele para mim: “a cidade tem pernas suficientes para andar”. Eu acho de facto que são pernas para andar que qualquer cidade precisa. Uma cidade não precisa de projectos, não precisa de pensos nas estradas, não precisa de receitas de promessas, só precisa de pernas suficientes para andar.

Dos escombros da velha cidade de Chimoio surge, hoje, uma nova cidade. A velha cidade viu que já não tem mais espaço naquele local, ainda hoje, ontem, alguém me contou que tinha visto a velha cidade deitada num banco da praça, reconstruindo memórias de quando ainda era a dona daquela cidade.

Há uma nova cidade surgindo em Chimoio, basta reparar nos camiões que vão carregando aos entulhos a velha cidade sem pernas para andar, basta reparar nos novos estrados que sustentam o sono da cidade, basta reparar nas vassouras e nas pás das senhoras de limpeza que vão recolhendo alguns restos da antiga cidade que ainda se disfarçam em lixo.

Deve ser terrível demolir uma cidade para fazer nascer uma outra. Não falo do trabalho de arrancar as avenidas e as suas raízes, não falo de afastar os roupeiros, as mesas, as gavetas e as cadeiras da cidade quando se começa o trabalho da demolição, porque uma cidade é uma casa. Falo de demolir a cidade inteira e pôr uma nova cidade com pernas para andar.

Ninguém vê, mas há uma nova cidade em Chimoio. De certeza a velha cidade está, neste momento, num asilo qualquer com um babete ao peito babando de tristeza e tentando engolir uma enorme colher do tempo que ainda era cidade. A velha cidade foi demolida e expulsa, porque já não tinha pernas suficientes para andar.

(S.Raimundo in facebook)


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