“Em certas páginas das
redes sociais digitais há especialistas dos grandes planos dramáticos: um tiro
corresponde para eles a 50 tiros, um ataque a 100 ataques, um ferido a 200
feridos e um morto a 300 mortos. Estão especialmente ávidos pelas mortes
governamentais.” Carlos Serra, sociólogo moçambicano.
A estrada nacional número um (EN1) no troço Save –
Muxúnguè e vice-versa voltou a ser o “corredor da morte” devido aos ataques
perpetrados pelo braço armado do partido Renamo. Em consequência destes
acontecimentos, o governo na qualidade de tutor dos superiores interesses
nacionais, voltou a introduziu colunas militares para escoltas de viaturas
civis e protecção de pessoas e bens. Com esta medida, espera-se que o governo e
as forças de defesa e segurança (FDS) consigam não só travar o derramamento de
sangue, mas também – e fundamentalmente – na repressão infringida aos autores
desses actos macabros. Não são as populações de Save e Muxúnguè as únicas
vítimas deste conflito. É o país inteiro que sofre com isso, porque a dor de
uma ferida não só tem efeitos no local, como abrange o corpo todo. É o país
inteiro que está a ser dilacerado por este conflito absurdo e injustificável.
Tenho cá comigo que não se justifica a guerra. Justificá-la é igual a uma
barbaridade.O medo entrou pelas nas nossas veias e instalou-se no nosso corpo.
Onde quer que a gente vá, o medo acompanha-nos. Mesmo quando dormimos, já não
sonhamos com a paz, porque o medo é quem pilota os nossos sonhos e escolhe a
pior pista para aterrar o nosso destino: a desgraça!
A Renamo diz que os meios justificam os fins, e
que os ataques visam forçar o governo a aceder às suas reclamações. Pergunto a
si, caro leitor, se querelas políticas é motivo para um partido com
representação parlamentar ferir e matar populações civis indefesas?
A segunda pergunta que faço ao leitor é está: Se
os partidos políticos precisam de eleições para aspirar a ser governo, por que
motivo a Renamo abanda os pleitos eleitorais?
Para o nosso paradigma de gestão governativa,
centralizado na figura de um soberano com forte dependência na máquina
partidária, a nomeação de seis governadores provenientes da Renamo não
constituiria uma garantia de acesso aos recursos minerais e energéticos, embora
reconheça que os seis nomeados – e apenas esses – teriam acesso a um poder
administrativo limitado. Ademais, os governadores provinciais são controlados
por um “remoto controlo”, pouca acção têm para agir à margem das decisões
centrais. Por outro lado, a Frelimo não aceitaria a alteração do jogo “ao meio
do campeonato”, porquanto a regra de partilha não fez parte do escrutínio eleitoral
em Outubro de 2014. Em política a vitimização é, infelizmente, a principal
regra de sobrevivência dos partidos. E a Renamo para legitimar o actual
conflito político-militar percebeu que era necessário, em primeiro lugar,
fazer-se passar por vítima de maus tratos da Frelimo, e, em segundo, arranjar
um bode expiatório que é a reivindicação para a nomeação dos governadores nas
províncias onde ela, a Renamo, ganhou o pleito eleitoral. Porque a pieguice não
tem fórmula fixa (depende da habilidade e da astúcia de cada pessoa),
brevemente nascerão outros chiados para justificar o injustificável: a matança
contra as populações indefesas.
Faço uma terceira pergunta ao leitor: como é que
se explica que um partido que tenha lutado pela democracia seja ele mesmo o seu
coveiro?
Os geólogos advertem que os recursos naturais do
país são esgotáveis. Certamente não irão acabar amanhã. Lula da Silva é o
melhor exemplo de que na política, assim como na vida, a paciência, a
persistência e o saber fazer ganham vitórias. A precipitação nunca levou
ninguém ao pódio. Espero que o líder máximo da Renamo, Afonso Dhlakama,
compreenda o ensinamento de Lula da Silva e do meu amigo Nkulu, poeta anónimo
que tanto admiro, nas seguintes reflexões:
1. A gula excessiva pode matar o próximo apetite e
decretar falência onde havia promessa.
2. As temperaturas da forja nunca são frias,
quando o objectivo for o de moldar o ferro.
3. Ganhos imediatos, sem semear, são traiçoeiros.
4. Vitórias fáceis não forjam quadros.

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