A Lei moçambicana proíbe a prática do aborto. Contudo, as mulheres
não deixam de fazê-lo. “Não há nenhuma Lei que conseguiu impedir que as
mulheres não façam o aborto”, refere Nafissa Osmar. Por falta de alternativas,
quando se vêem numa gravidez indesejada, as mulheres abortam às escondidas e em
condições deploráveis, usando métodos que colocam em risco as suas vidas.As que
não morrem ficam com sequelas graves, algumas por toda a vida devido ao tipo de
instrumento ou meio que usam para abortar. Há aquelas que ingerem ervas,
lixívia, gasolina, pólvora e café. Outras introduzem nos órgãos genitais,
instrumentos e raízes, folhas de plantas e medicamentos tais como o
permanganato de potássio.Em 2012, só a cidade de Maputo registou mais de mil
admissões de mulheres com complicações devido ao aborto inseguro. Do total, dez
perderam a vida devido a sepsia e dois por hemorragias. Estes dados excluem o
Hospital Central de Maputo (HCM), o maior do país.Devido à gravidade das
lesões, algumas mulheres lhes são tiradas o útero, outras ficam sem
possibilidade de voltar a engravidar o que aumenta a sua discriminação na
sociedade por não conseguirem conceber, explica a socióloga Maria José Arthur.As
principais vítimas de aborto inseguro são mulheres de todas as idades,
sobretudo raparigas, e com poucos rendimentos, residentes, na sua maioria, em
zonas rurais e, com desconhecimento do uso de contraceptivos modernos, uma vez
que as que têm mais meios podem ter acesso aos serviços de aborto seguro em
clínicas privadas e com todas as condições, fez notar Nafissa Osmar. “Não
estamos a favor do aborto. O ideal seria que todas as mulheres conseguissem
prevenir a gravidez indesejada. Mas a nossa realidade é outra. As mulheres
estão a morrer e temos que fazer algo para evitar essas mortes”, aponta a
gineco-obstetra, Nafissa Osmar. Em 1989, o Dr. Pascoal Mocumbi, na altura
ministro da Saúde, aprovou um regulamento interno que autorizou a prestação de
serviços de interrupção da gravidez, a pedido das mulheres que assim o
desejassem, o que contribuiu para salvar vidas. Contudo, esta norma não está a
ser respeitada em todas as unidades sanitárias do país porque não vai de acordo
com o que está no Código Penal.“Há directores de hospitais que são sensíveis à
questão da morte de mulheres e permitem a interrupção voluntária da gravidez no
hospital, mas há outros que não, por questões pessoais, religiosos e morais”,
aponta Maria José Arthur.
quinta-feira, outubro 17, 2013
Mortes maternas equivale ao despenho de Boeing 747
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