
Munícipe
é uma categoria de habitante que possui certos atributos. Um munícipe está
consciente dos seus deveres e direitos, tem princípios e comportamentos
urbanos, está ciente de que viver na cidade tem custos. O mesmo já não acontece
com o habitante. A urbanidade tem custos e poucas pessoas têm capacidade para
custear o preço de viver numa cidade.
A retórica do senhor presidente leva-nos a crer que o
município de Quelimane tem mais habitantes que munícipes...
Quelimane
não podia ser uma ilha. É bom saber que aquele grupo de pessoas que está a
ruralizar as cidades moçambicanas também dominou Quelimane por mais de 40 anos
até à sua libertação em Dezembro de 2011 [vitória de Manuel de Araújo nas
eleições intercalares]. Nós chegámos há seis anos e esse tempo é pouco para
inverter o cenário, mas estamos a virar o barco para o rumo certo.
Portanto, a ruralização que caracteriza Quelimane não
deriva do fraco desempenho da governação local, mas do problema geral do
país...
Numa das entrevistas ao SAVANA, o edil disse que um dos
seus sonhos era transformar Quelimane numa cidade moderna. Contudo, o cenário
que acima descreveu mostra que esse desejo está prestes a terminar num sonho...

A geografia de Quelimane faz com que alguns bairros se
separem através de riachos. Porém, com as cheias de 2015, muitas das “pontecas”
que estabeleciam a ligação desabaram e a comunicação entre os bairros virou um
martírio. Como é que o município está a atenuar esse sofrimento?. Há planos de
reposição das “pontecas”?
Qual é orçamento anual do município e quanto é que seria
necessário para uma gestão ideal?
Temos um
orçamento de cerca de 300 milhões de meticais, mas para o nosso pleno
funcionamento, precisaríamos de cerca de 1.500 milhões de meticais, cinco vezes
mais do que o nosso actual orçamento.
Cerca de 35% vem de receitas próprias e o
resto vem de fontes externas.
Os 35%
significam crescimento ou queda em relação à gestão anterior? Estamos a
subir. Quando chegamos, as receitas internas cobriam apenas 20% do nosso
orçamento.
As bicicletas são a espinha dorsal do sector de
transportes em Quelimane e várias correntes entendem que se perdeu durante o
seu mandato a oportunidade de disciplinar esta actividade e torná-la mais
eficiente economicamente. Que resposta dá a esse entendimento?
Isso não
é verdade. Juntamente com os taxistas, estamos a mudar o cenário, temos
campanhas de educação e sensibilização sobre normas de trânsito, com o nosso
apoio, os taxistas criaram uma associação. Neste momento, estamos no processo
de registos e oficialização das actividades.
Quantos “táxis-bicicleta” operam na cidade de Quelimane?
Os
números variam entre 1.000 a 1.500. Agora, o grande problema é dos compatriotas
que vêm de fora da cidade de Quelimane. Temos taxistas que vêm dos distritos de
Quelimane, Inhassunge e Nicoadala, mas que exercem a sua actividade dentro do
município. Esses estão fora do nosso controlo, mas não podemos impedi-los de
exercer a actividade, porque também estão à busca de sobrevivência.
Outro
problema que aflige a cidade de Quelimane e que foi motivo de reparo por parte
do chefe de Estado tem a ver com a gestão de resíduos sólidos. O município de
Quelimane não consegue recolher lixo? A nossa capacidade de recolha de lixo
melhorou muito. Nos últimos meses, investiu-se muito em meios materiais. O
problema está na mentalidade das pessoas (voltando ao debate de munícipe e
habitante). Os munícipes teimam em não acatar os nossos apelos. Outra questão
tem a ver com um depósito municipal de resíduos sólidos que não temos. Ao nível
da cidade de Quelimane, não temos espaço. Pedimos espaço ao governo provincial
para a construção do nosso aterro sanitário. O próprio governador, Abdul Razak,
prometeu, mas, até hoje, a promessa ainda não foi materializada. Tivemos um
financiamento dos países nórdicos para a construção de uma lixeira municipal e
acabamos perdendo essa oportunidade, porque o governo provincial está a recusar
ceder o espaço.
Quelimane celebrou 75 anos, dos quais seis sob
administração do MDM. Quando olha para a cidade o que lhe magoa?
Fico
triste cada vez que olho para a cidade e lembro que ficou 40 anos abandonada,
viveu 40 anos de destruição contínua. Fico triste quando me recordo que a
cidade foi saqueada durante 40 anos. Triste quando me lembro que a única
estrada pavimentada em 40 anos é a que dava acesso ao local do congresso da
Frelimo, realizado em 2006. Fico triste quando me recordo que essa estrada só
resistiu apenas dois anos e nós tivemos de reconstruir.


Fale-nos em termos materiais
Os ganhos não são imediatos. Antes, tínhamos
de colocar Quelimane nas montras internacionais. Ninguém conhecia Quelimane e
um dia teremos ganhos. Roma não foi construído num dia. Portanto, peço que me
exijam as omeletes no fim do meu mandato. Agora estou à procura de ovos.
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