
Cerca das 11:00 h desta Quarta-feira (4) os jornalistas foram recebidos e
acompanhados pelo administrador local, Manuel Jamaca, na companhia de líderes
tradicionais e levados pela Estrada Nacional Nº 7, centro nordeste da vila de
Gorongosa, até a proximidade limítrofe com o distrito de Macossa, na província
de Sofala com a província de Manica, por forma a esclarecer a existência ou não
de corpos de pessoas mortas e porque não mesmo da dita vala comum.
No local, o administrador da Gorongosa falando aos jornalistas afirmou que
“quanto a vala comum no distrito da Gorongosa respondo negativamente, não existe.
Eu estou aqui no distrito de Gorongosa, a partir deste rio Nhaduwe que limita a
província de Sofala com a província de Manica, até o rio Pungué, trabalhamos
com a população, com os lideres comunitários, que ao longo do caminho vimos,
podemos parar a qualquer passo que quisermos, até a qualquer momento, não
confirmo, não à nenhuma vala comum, vala comum não existe no distrito da
Gorongosa (…) vocês têm do direito, todo o espaço de interagir com os
camponeses nestas machambas que estão a ver aqui a minha direita, entrar por
ali, a qualquer machamba daqui para (rio) Pungué procurem qualquer camponês,
qualquer aluno, professor, qualquer líder comunitário, qualquer agente
económico, perguntem…”

Com isto, ficou claro que a zona pretendida pelos jornalistas pertencia a
Província de Manica.
Dispondo os jornalistas de alguns dados soltos no que diz respeito aos
locais problemáticos sobre o assunto, perguntado o Administrador se conhecia ou
sabia da existência (de ajudantes) dos regulados chamado ‘tropa’, disse que o
mesmo pertencia a Manica.
De seguida foi indagado se conhecia a zona habitacional chamada
“seventinsix’ e se a mesma pertencia a Gorongosa, tendo respondido que “o tal
“seventinsix’, o tal ‘tropa’, distrito é Macossa, tudo é província de Manica,
portanto sobre a jurisdição…”
Então quer dizer que não podemos ir para o outro lado? Questionamos ao que
respondeu, “não (não é isso) podem ir, mas têm que comunicar com os
Governadores…”

Andaram nisso cerca meia hora. Discussões, trocas de opiniões… e iam
fazendo pequenas entrevistas aos camponeses ou residentes da zona que por ai
iam transitando a pé ou de bicicleta quando, depois de tantas interpelações,
finalmente surgiu a revelação no depoimento de Doca Sabir (que entretanto
acabou acompanhado a equipa de jornalistas ao local e mais abaixo transcrita a
conversa).

Respondeu: “Não à inconveniência, o Governo é o mesmo, o que é preciso é
interagir com o Governo de Manica, para Manica dizer a vocês, convidar a vocês
para ir no território dele fazer o trabalho que (vos) for conveniente…”
Retorquiriam: mas no nosso entender não precisamos de ser convidados para
fazer o trabalho pretendido.
Respondeu: “Precisam de ser autorizados, não pode ser a governadora Helena
Taipo a mandar vocês a ir (por exemplo) Zambézia para fazer um trabalho de
investigação ou de apuramento da verdade sem comunicar com o homólogo da
Zambézia ou de Manica ou de Maputo ou qualquer coisa. Neste caso, estamos a vir
directamente da Beira (para) Gorongosa, para passarmos a província de Manica
fazermos um trabalho que pode levar um dia, duas horas, o Governador de Manica
tem que ser comunicado. Não à nenhuma proibição, só que é preciso haver uma
comunicação (…)”.
Os jornalistas precisavam de uma protecção dado todo o cuidado necessário
para fazer a incursão para “o outro lado” - por sinal de onde os dois primeiros
jornalistas (da Lusa e do DW) que tentaram investigar este caso saíram em
debanda e sob som de tiros - e não arredando o pé, voltaram batendo na tecla:
mas qual a inconveniência?
Em resposta manteve a sua posição, afirmando que “a senhora Governadora nos
deu a tarefa de receber-vos, fazerem a investigação livremente no território de
Gorongosa. Eu, a todo o sol, a todo o momento estou disponível… mas não posso
ir para além…”.

No local, conversaram com o acompanhante:
Seu nome
-“Meu nome é Don (ou Doca) Sabir
Quando é que o senhor descobriu que havia corpos aqui, próximo da sua
machamba

Não teria visto as pessoas que trouxeram os corpos…
-“Iii, nada, não viu”
Conseguiu identificar alguns carros
-“Nada, não viu, estes está vir de noite…
Mas quando começaram a ver os corpos não puderam identificar pelo menos a
roupa, pode ser pessoa X ou do sítio Y
-“Nada, esse não é daqui, nada…
Mas quando o senhor viu, os corpos estavam com roupas ou já assim no estado
de decomposição
-“Está acabado assim…”
Outro corpo parece duma mulher
-“Sim, é uma mulher sim”
Há outros corpos aqui próximo?
-“Há outro está ai na ponte (rio Muere)…”
Mas existe por aqui uma vala onde tem muitos corpos?
-“Ai na ponte tem sim, volta de 9…”
Fala-se que para este lado de Macossa tem um buraco grande onde se extraia
ouro e onde começaram a deitar corpos, será verdade isso?
-“Há, ai em frente mas é de muito tempo já…”
Quando diz de muito tempo, está a falar de quanto tempo mais ou menos?
-“Quase passa dois meses…”
Mas o senhor viu esses corpos?
-“Nada eu não viu, só pessoa estava a falar…”
Daqui para lá é muito longe?
-“Iii é longe já”.
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