As
consequências dos investimentos públicos feitos durante os mandatos de Armando
Guebuza (direita) recaem agora sobre o atual Presidente, Filipe Nyusi
(esquerda).
Apesar de terem
sido bem-vindos aquando da sua construção, estes empreendimentos são agora alvo
de críticas, devido aos impactos que o pagamento dos investimentos tem na
encomia moçambicana. “[A ponte de Catembe vai ser paga] a muito longo prazo”, afirma
o economista moçambicano Ragendra de Sousa, que considera que se devem
questionar vários elementos na avaliação dos projetos.
“Se dissermos
que a ponte vai ser paga pelas portagens, nem daqui a 150 anos [a dívida está
paga]”, afirma Ragendra de Sousa. “É uma dívida que se vai repercutir agora, no
Orçamento. O segundo elemento desta análise é que, por se tratar de uma
infraestrutura citadina-urbana, quem vai pagar a ponte é o cidadão de Lichinga,
de Tete, da Zambézia que, de certo modo, tiram pouco benefício dela”.
Para Ragendra
de Sousa, este tipo de investimentos não deveria recair somente na receita
central. “Nos países mais desenvolvidos, esta dívida seria paga pelo Orçamento
da província de Maputo, com alguns subsídios do Orçamento central, por ser uma
ponte que tem a ver com a província de Maputo. Mas, no nosso caso, não é assim;
é investimento público central, é pago com a receita central”, conclui o
economista.
Com o
agravamento da situação económica de Moçambique, os moçambicanos começam agora
a questionar os investimentos públicos, sobretudo ao nível da transparência.
“O problema não
é a relevância dos investimentos, mas os custos”
Ericino de
Salema, jornalista e jurista moçambicano, afirma que a corrupção técnica é um
dos problemas destes investimentos. “Há especialistas que já afirmaram que era
possível construir estes empreendimentos com muito menos dinheiro. Para mim,
esse é o problema. A corrupção técnica sobre a faturação, para que aqueles que
orquestram tais eventos possam tirar benefícios”, diz o jurista.
Para Ericino de
Salema, o problema não é a relevância das infraestruturas, mas sim a questão da
faturação e dos custos, superiores ao que era suposto. “A questão não é a
relevância, por exemplo, da circular de Maputo, é o facto de as obras custarem
muito mais do que aquilo que deveriam custar. E se formos estudar um pouco
daquilo que o plano do Orçamento da região da grande Maputo diz, aquela obra
não é nova”, diz.
Dívida pública
pesa no contribuinte moçambicano
Dívida pública
é quando o Estado pede dinheiro emprestado para fazer investimentos públicos,
quando os recursos resultantes da coleta de impostos se mostram insuficientes
para cumprir com os objetivos previstos.
Para pagar esta
dívida, é necessário um esforço interno da economia, e a dívida pública é uma dor de cabeça para
o Governo de Moçambique. A juntar-se a isto há uma nova
situação: empréstimos
pouco transparentes feitos pelo anterior Governo para
investimentos pouco claros, avaliados em cerca de 1,35 mil milhões de dólares –
que, até hoje, não se sabe exatamente como serão pagos.Para Ragendra
de Sousa, é importante que os órgãos de decisão governamental tenham competência
para “decidir na oportunidade de cada investimento, porque não tendo essa
capacidade, num país como o nosso, onde falta quase tudo, alguém tem de tomar a
decisão sobre o que é prioritário”.Outra solução
para a saída da crise financeira apontada pelo economista é, em primeiro lugar,
“renegociar a dívida e, em segundo, fazer tudo o que está ao nosso alcance para
acelerar os projetos de gás e a diversificação da economia”.Uma árdua
tarefa que recai agora nas mãos do atual Presidente Filipe Nyusi e do seu
Governo. O legado de Armando Guebuza é uma realidade que pesa ao cidadão e, ao
que tudo indica, vai continuar a atormentá-lo a médio prazo.“Eu acho que
toda a avaliação que for feita aos dois mandatos do ex-Presidente da República,
Armando Guebuza, se forem minimamente honestas têm de mostrar uma coisa: que,
com isso tudo, ainda que potencialmente lhe conseguissem apontar aspetos
positivos, estes dois mandatos foram desastrosos, tendo em conta que a toda a
estrutura das contas públicas, toda a balança de pagamentos, que por si já é
deficitária, está cada vez mais deficitária”, afirma Ericino de Salema. “A
consequência mais rápida é a entrada mais forte do FMI [Fundo
Monetário Internacional] no país, controlando as fianças públicas”, conclui.
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